Elvira
Souza Lima
À
medida que vamos nos aproximando do final de 2020, um ano sem
precedentes, cabe refletir no turbulento período que a escola tem
experimentado no mundo todo.
No
ato 1 deste teatro do absurdo, do impensável, escolas se fecham no
mundo todo. Primeira providência, passar para o ensino remoto. Mas
tomamos consciência imediata da enorme desigualdade de condições
da infância e da juventude no mundo todo.
Tecnologia
digital e internet não são acessíveis a 20%, 30% até a 80% das
crianças e jovens, dependendo dos países, de regiões de um mesmo
país, de cidades, de bairros... Desigualdade intuída por alguns,
suspeitada por vários, sabida por outros, porém não com a dimensão
que a COVID19 demonstrou.
No
ato 2, a figura do professor começa a tomar um vulto também sem
precedentes, para quem teve acesso ao ensino remoto e também para
quem não teve. Seja por meios tecnológicos digitais, seja pela TV,
rádio, pelas sacolinhas (solução encontrada para que as
atividades cheguem ao aluno sem acesso à internet, às vezes até
mesmo sem energia elétrica), uma verdade se impõe: ninguém
substitui professor.
Rapidamente
se constata outra verdade: o mundo precisa das escolas.
De
centro da docência, dos conhecimentos formais, de ensino da leitura,
da escrita, da matemática, a escola começa a ser reconhecida como
espaço necessário para a comunicação. Ah, a escola, espaço de
cultura, de vivência simbólica, de partilhamentos, de emoções...
É
o momento que, no contexto das restrições impostas pelo Covid19,
começa a se ter saudades da escola. Saudade dos professores, dos
amigos, dos alunos, da rotina em que comportamentos culturais e de
vida coletiva são introduzidos, praticados e as novas gerações vão
se formando como pessoas de cultura.
Começa
a percepção geral de que escola é necessária para o funcionamento
de muitas sociedades pelo mundo todo. É o momento que, também,
começa-se a perceber que várias formas de organização social e de
culturas não urbanas se saem melhor na vivência das restrições e
no isolamento social que o COVID19 impôs.
No
ato 3, a discussão se volta para a economia. As pessoas precisam
voltar a trabalhar, mas as famílias precisam de suporte para cuidar
de seus filhos, de forma que possam voltar para seus locais de
trabalho e mesmo para trabalhar em casa. Home
Office
é algo desafiador quando se tem crianças e jovens pela casa.
Escolas
não só são espaços de cultura, de docência e aquisição de
conhecimentos formais. São espaços de acolhimento e guarda das
crianças e jovens. Muitas vezes, também, de alimentação.
Quando
começam a se evidenciar as consequências da COVID19 na saúde
mental, a escola começa a ser vista como componente chave para se
lidar com um problema que apenas se evidencia, sem se ter ainda uma
ideia precisa de sua dimensão.
Estados
de ansiedade, estresse, depressão se propagam de forma alarmante em
alguns contextos. Cabe agora à escola se envolver, também, com esta
dimensão das consequências do COVID19. Isolamento social, perda de
pessoas próximas, desemprego são todos fatores que vão ganhando
importância ao afetar o equilíbrio emocional e as relações
pessoais.
Entramos,
então, no ato 4 em que se começa a pensar a escola como o espaço
promissor para criar um contexto adequado para atender aos desafios
colocados pela permanência do COVID19.
A
enorme diversidade de situações, atravessando todas as classes
sociais e econômicas, as coletividades culturais e linguísticas nos
apontam para a realidade de que as soluções e propostas para a
educação e a organização serão, principalmente, locais. Em cada
comunidade, cada bairro, cada escola as escolhas serão feitas pelas
pessoas que aí vivem e interagem.
É
o que temos percebido nos vários países em que as escolas estão
voltando, enfrentando altos e baixos, surtos de contaminação,
quarentenas parciais. Porém, em todas as situações as pessoas
estão conscientes de que não há um modelo único a ser implantado,
uma mesma resposta para todos, uma mesma solução para questões tão
diversas.
E a
escola assume, pouco a pouco, uma dimensão integradora da docência,
da cultura e da saúde. Esta dimensão impõe o exercício da
imaginação e da criatividade, exercício este que já começa a
provocar uma movimento importante na redefinição da instituição
escolar no mundo contemporâneo.